Bruno Fleming
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continuando...
E9 levantei, e aproveitei pra
brincar em ruas de grama.
E acordei com entusiasmo pra escalar goiabeira.
Hoje faço meu inventário pra guardar memórias
raras:
“Tampinha da laranja / semente de romã / bicho
da goiaba / folha de hortelã / câmaras de ar /
bóias pra nadar / cloro no cabelo / sunga pra
pular / ferrão de marimbondo / ralo da piscina / moleque tão briguento me
esperando na esquina / Liga da Justiça / Caverna do Dragão /
Onde está Wally? / Comandos em Ação / lápis e
borracha / papel e giz de cera /
cheiro da escola guardado na lancheira / jogo
de botão / bola de capotão / futebol na pracinha /
time do Negão / cheiro de naná / vermelho
embornal / cortina do Pinóquio / crochê da Vó Sinhá / pote de arnica serrote do porão / passarinho colorido que
muda de estação /
escuro do meu quarto / medo do palhaço / entro
mas não vejo um nó no meu cadarço /
sacolas estampadas / na hora do almoço / no
mercadão antigo cada passo um cheiro novo /
alçapão de pombo feito com um balde preto /
barbante que estica até a janela do banheiro /
banco de cimento / colo de Anita / azulejo de
alpendre / coração de Dona Chica.”
De10 onde vim é tudo o que sou. Opa!
E pra celebrar tudo o que vi no quintal que me
criou, andei, pensei e parei, já sei!
Contar histórias: verdade!
Banho de rio, Minas Gerais, oba!
E pra experimentar mais uma vez tudo o que me
ensinou, andei, pensei e parei, já sei!
Guardar memórias: saudade!
Cantar a terra natal: lealdade!
Longe11 da cidade, casinha lá detrás
do monte.
Roça pequenina do Vô José!
Todos os ouvidos atentos pra mais uma história!
(Totó): - Conte-nos aquela que reza assim:
“Velho Boiadeiro em seu alazão...”
(Vô
Zé): - “É muito ruim de
mira, com sua espingarda velha erra até elefante!
É herói
farsante mas é o rei da sorte: sempre ganha da morte!”
Quem contava era Vô Zé!
Cheiro de pamonha, doce rapadura mole, suco de
mangaba da Vó Sinhá.
(Totó): - Só mais um sorvete, só mais uma história
boa, conte-nos aquela que reza assim...
(Vô
Zé): - “Dona Helena vai,
deixa eu te cuidar linda rosa! Dona Helena lá e eu cá, boiadeiro de mãos
machucadas, trabalhador solitário! Dona Helena vai, deixa eu te cantar bossa
nova...”
Abram as cortinas, mexam as barrigas em
lágrimas de riso que é choro bom!
(Vô
Zé): - “Velho Boiadeiro,
grande coração!
Luta pela
amada e enfrenta o inimigo mal cara-à-cara com a morte!
Um tiro pela
culatra raspa a mamangava que voa e pica o bandido bem na garganta!
Quem contava era Vô Zé, tão nobre Vô Zé sentado12
em seu trono de descanso, escravo do cochilo.
Sob a sombra das histórias, sob a sombra dos
meninos.
No reino lá da roça tinha pé de bananeira,
folha grande, folha forte sempre foi nossa bandeira.
continua...
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Por Bruno Fleming
quarta-feira, 6 de junho de 2012
Bigode de Leite, Folha de Hortelã - Volume 07
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