Por Bruno Fleming

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Bigode de Leite, Folha de Hortelã - Volume 07

Bruno Fleming











continuando...


E9 levantei, e aproveitei pra brincar em ruas de grama.
E acordei com entusiasmo pra escalar goiabeira.
Hoje faço meu inventário pra guardar memórias raras:

“Tampinha da laranja / semente de romã / bicho da goiaba / folha de hortelã / câmaras de ar /
bóias pra nadar / cloro no cabelo / sunga pra pular / ferrão de marimbondo / ralo da piscina / moleque tão briguento me esperando na esquina / Liga da Justiça / Caverna do Dragão /
Onde está Wally? / Comandos em Ação / lápis e borracha / papel e giz de cera /
cheiro da escola guardado na lancheira / jogo de botão / bola de capotão / futebol na pracinha /
time do Negão / cheiro de naná / vermelho embornal / cortina do Pinóquio / crochê da Vó Sinhá / pote de arnica  serrote do porão / passarinho colorido que muda de estação /
escuro do meu quarto / medo do palhaço / entro mas não vejo um nó no meu cadarço /
sacolas estampadas / na hora do almoço / no mercadão antigo cada passo um cheiro novo /
alçapão de pombo feito com um balde preto / barbante que estica até a janela do banheiro /
banco de cimento / colo de Anita / azulejo de alpendre / coração de Dona Chica.”

De10 onde vim é tudo o que sou. Opa!
E pra celebrar tudo o que vi no quintal que me criou, andei, pensei e parei, já sei!
Contar histórias: verdade!
Banho de rio, Minas Gerais, oba!
E pra experimentar mais uma vez tudo o que me ensinou, andei, pensei e parei, já sei!
Guardar memórias: saudade!
Cantar a terra natal: lealdade!

Longe11 da cidade, casinha lá detrás do monte.
Roça pequenina do Vô José!
Todos os ouvidos atentos pra mais uma história!

(Totó): - Conte-nos aquela que reza assim:

“Velho Boiadeiro em seu alazão...”

(Vô Zé): - “É muito ruim de mira, com sua espingarda velha erra até elefante!
É herói farsante mas é o rei da sorte: sempre ganha da morte!”

Quem contava era Vô Zé!
Cheiro de pamonha, doce rapadura mole, suco de mangaba da Vó Sinhá.

(Totó): - Só mais um sorvete, só mais uma história boa, conte-nos aquela que reza assim...
(Vô Zé): - “Dona Helena vai, deixa eu te cuidar linda rosa! Dona Helena lá e eu cá, boiadeiro de mãos machucadas, trabalhador solitário! Dona Helena vai, deixa eu te cantar bossa nova...”


Abram as cortinas, mexam as barrigas em lágrimas de riso que é choro bom!

(Vô Zé): - “Velho Boiadeiro, grande coração!
Luta pela amada e enfrenta o inimigo mal cara-à-cara com a morte!
Um tiro pela culatra raspa a mamangava que voa e pica o bandido bem na garganta!

Quem contava era Vô Zé, tão nobre Vô Zé sentado12 em seu trono de descanso, escravo do cochilo.
Sob a sombra das histórias, sob a sombra dos meninos.
No reino lá da roça tinha pé de bananeira, folha grande, folha forte sempre foi nossa bandeira.

continua...

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